sexta-feira, 27 de março de 2009

Inquietação

Uma inquietação me toma. Minha mão formiga. O cérebro, já agitado, dispara linhas de raciocínio sem cessar. Procuro, já um tanto nervosa, pelos lápis e papel mais próximos. Outra vez, vai começar.

Já escrito o parágrafo inicial, de repente os disparos de raciocínio travam. A mão com lápis a postos, como um soldado, aguarda comando. Mas cessou-se o fogo. Ainda sim, fato é que meu pensamento permaneceu em você. Mas reviro minha mente atrás de palavras certas sem sucesso. Conformo-me e retomo minha atividade anterior à explosão.

Já não mais consigo. Tento em vão buscar a concentraçao de antes, mas a cada passo que dou em minha atividade, o próprio passo retoma você. Me pego já tendo deixado a atividade de lado novamente, e me encontro em modo stand-by ligado. Meu olhar perdido, enquanto imagens de nós dois passam por meus pensamentos.

Queria escrever-te descrevendo todo este festival de imagens. Pondo minha atividade inicial totalmente de lado - desta vez de forma consciente - tento escrever algo para demonstrar-te tudo o que sinto por você. Mas também não consigo. Lápis na mão a postos novamente, e novamente sem comando de "ação!".

Como pode um sentimento tão concreto e consistente quanto o que sinto por você, ser indescritível? Como podem tantas imagens tão nítidas em minha mente se tornarem inenarráveis?

Para retomar minha atividade - veja só a quanto tempo já privei dela -, preciso desenquietar meu coração. Para tal, preciso por no papel o que não tem descrição. E como fazê-lo? Que mistério a resolver! Que sinuca! Perdi meu chão por amar você!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Soneto n. 02

Acho que estamos falando demais...
Mas por que controlar palavras quando já estamos demonstrando demais?...
E como disfarçar atitudes quando a mente já pensa demais?...
Pois é impossível bloquear pensamentos uma vez que sentimos cada vez mais

"Vocês estão indo muito rápido", as pessoas dirão
"Controle as palavras, a atitude, o coração"
"Mesmo querendo dizer sim, jogue duro, diga não"
"Guarde tudo pra depois, pra evitar decepção"

Mas pra que controlar sentimento?
Nós já sabemos que não é coisa de momento
Não há como por um limite mínimo de tempo

Sinto em três dias o que sentiria em um ano
Ao olhar nos teus olhos, vejo que não me engano
E me vejo, segura, lhe dizendo "Eu te amo!"

segunda-feira, 23 de março de 2009

Carta ao Leitor II

Então galera! Susto por ver o Conto do Garimpeiro de volta? hahahaha
(É, essa carta ao leitor vai ser mais informal. rsrsrs)

Como eu disse pra vcs, um dia esse texto e os outros que eu não publiquei, voltariam. Numa secção (escrevi certinho viu Fernanda? hahaha) que se entitularia "sentimentos do que um dia eu senti". Mas apesar de sentir vontade já a algum tempinho de começar logo essa secção, fato era que no fundo no fundo ainda não era a hora.
Bom, agora sim é! Então não poderia começar com outro que não o já famoso (a melhor propaganda é a censura, já demonstrou muitas vezes a história) Conto do Garimpeiro.

Pra quem não sabe da estória e não tá entendendo nada eu explico:
Logo no começo deste blog, em setembro do ano passado, no pico da minha produtividade textual, eu escrevi e postei este conto. Logo depois tirei do blog por um processo de auto-censura, por saber que o texto estava agressivo demais pelas entrelinhas. Mas como me foi dito na época, se esse blog é pra retratar tudo que eu venho sentindo e me ajudar no processo de cura (não sei se é uma questão de cura, mas no mínimo de estravazar para ter capacidade de seguir em frente), os sentimentos de raiva, agressividade, ironia, mágoa, e o que mais fosse também seriam uma etapa, e o blog deveria retratar essa faceta da minha caminhada também.

Bom, pra evitar maiores aborreecimentos, discussões, acusações e etecétera, censurei meu próprio blog. Mas com a promessa de que na hora apropriada este texto, e outros que eu censurei antes mesmo deles serem postados, voltariam. Bem, eis que esta hora é chegada. Não pelos acontecimentos recentes da minha vida pessoal em si. Mas pelas consequências que esses acontecimentos causaram na minha cabeça. Hoje eu olhei pro conto e não vi mais nada de censurável nele. E era esse sinal que faltava pra que eu soubesse que já estava pronta para postar novemente este texto.

Então sem mais delongas eis o conto de volta. Vale ressaltar mais uma vez que este texto foi escrito em setembro, então não tem nenhuma relação direta com a minha vida pessoal presente. O que não quer dizer que os dois juntos não formem uma feliz coincidência.... Apesar de que eu não consideraria mera coincidência. Pode ser destino, pode ser previsão, pode ser lei da atração... vai saber, pode ser tanta coisa. Ou pode ser simplesmente que eu estava certa. Vai saber....

O Conto do Garipeiro

Existem dois tipos de pedra o ouro e o ouro de tolo. E antes de começar nossa estória, preciso definí-las.

O ouro é pedra rara. É pedra rica. Pode trazer a um homem tudo o que ele sonhou e um pouco mais, se ele tiver a sorte de encontrá-lo ou conquistá-lo. Tem brilho próprio. O sol pode acentuá-lo, mas seu brilho é próprio. Já o ouro de tolo te enche de esperanças falsas. O homem que o encontra, a princípio, fica todo empolgado. Pensa nas novas oportunidades e situações que se abrirão em sua vida com aquele ouro, que até então ele não sabe que é de tolo. Mas ouro de tolo não é ouro. A principio podem parecer bem similares. O ouro de tolo pode até mesmo parecer mais valioso, dependendo da intesidade da luz do sol sobre a qual ele se mostrar. Mas ouro de tolo não tem brilho próprio. Ele só suga a luz do sol, a reflete. É só uma imitação do que é belo, quando não é. Fingindo ser mais valioso que o ouro verdadeiro quando não é. Fingindo ser tudo que aquele que o encontrou queria, quando não é. Não tem valor próprio, não tem brilho próprio. É tudo falso nele, tudo ilusão. Na verdade, não passa de uma pedrinha vagabunda e ordinária, dessas que se encontra na rua, em qualquer esquina.

O ouro de verdade dura muito mais do que uma vida inteira. Já o ouro de tolo dura pouquíssimo tempo. Em pouco tempo seu verdadeiro caráter é descoberto e o tolo se desfaz dele. E assim o ouro de tolo segue seu destino errante, passando de mão em mão, de tolo em tolo, e sempre sendo dispensado assim que sua verdadeira identidade é descoberta. Uns percebem logo e na mesma hora o descartam. Outros são mais tolos e demoram um pouco mais. Mas também não muito mais. Eu tenho pena do ouro de tolo, coitado, pela sua triste sina que vai se seguir pelo resto de sua vida. Mas que fazer se está é sua índole, inventar e enganar, em vez de ser?

Vamos à nossa estória então. Era uma vez um garimpeiro. Ele encontrou uma pepita de ouro. Durante muito tempo soube o quanto tinha sorte, e o quanto o ouro já estava lhe dando e tudo que ele ainda poderia lhe dar. Mas um belo dia ele encontrou um ouro de tolo. O ouro de tolo tinha se posicionado estratégicamente para que a luz do sol o detacasse aos olhos do garimpeiro. O garimpeiro, ante aquele brilho todo, ficou momentaneamente cego. Sua ganância foi tanta, que viu no ouro de tolo até mais brilho o que o ouro de tolo fingia à luz do sol. Julgou então que a pepita de ouro que tinha em casa, que já lhe dava tanto e a tanto tempo, não poderia lhe dar tanto comparado àquela nova pedra. Ainda parou pra pensar por um tempinho, mas a ganância e a cegueira que o ouro de tolo lhe causara logo o levaram a decidir por dispensar sua pepita de ouro verdadeiro por aquela pedra. E achou durante um tempo aquela fora a melhor escolha que poderia ter feito.

Até que um dia levou seu ouro de tolo a um avaliador. Descobriu então que o ouro de tolo não valia nada. Ficou desiludido e de coração partido. Lembrou-se então da pepita que havia jogado fora. Será que ainda poderia reencontrá-la, recuperá-la? Neste momento chega ao avaliador um outro garimpeiro, pulando de felicidade. Para a surpresa de nosso amigo garimpeiro, este tinha em suas mãos aquela pepita, a sua pepita. O avaliador a analisa e logo anuncia ao outro o homem de sorte que ele era, pois nunca tinha visto em tantos anos naquele serviço tanto valor e raridade numa única pepita. O segundo garimpeiro saiu agarrado com sua pepita, pois sabendo o valor que tinha, nunca a deixaria lhe escapar. E o nosso amigo saiu da loja sabendo o tolo que era, pois perdera a maior e melhor oportunidade de sua vida, que estava em suas mão e ele optara por deixar escapar, por uma ilusão momentânea.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O Benefício da Dúvida

Em tempos em que tudo é instantâneo e sem rodeios, lhes concedo o benefício da dúvida.

Caso de estudo: O Inverso do "Cala a Boca e Beija Logo"
(nomes das personagens removidos para não expô-los no meu estudo)

Ele e ela estão conversando. Parece que está rolando um clima. Mas as horas passam e os dois continuam só conversando. A pessoa parece ser tão legal, que ao mesmo tempo que o clima só aumenta, os dois acabam esquecendo das 2as, 3as e 4as intenções. Uma conversa tão legal que nem se vê as horas passarem. Até a hora que dá a hora deles.

De repente eles se lembram que ir embora significa se despedir. E se despedir significa ficar a 2 milímetros do rosto da pessoa. E ficar a 2 milímimetros do rosto da pessoa significa que eles ainda não sabem o que isso significa.

Beijo numa bocheca, beijo na outra, e aí chegam os tais 2 milímetros. Ela olha pra ele, ele olha pra ela... E diz... "Então tchau! A gente se fala!"
Cada um vai pro seu canto tão perplexos consigo mesmos quanto um com o outro.


Análise de caso:
Falta de atitude dele? Falta de demonstração de interesse dela? Timidez dos dois? Pode ser... Mas se até você também ficou pensando e analisando o caso só de ler a estória, dirá os dois.
Eles podiam ter se beijado. Naquela hora, antes ou seja lá quando fosse. Nos tempos de hoje seria normal, ou mais do que isso, o esperado. Mas e aí? No final das contas os dois não teriam terminado com um "Então tchau! A gente se fala!", do mesmo jeito?

Porém, eis que entra em cena o benefício da dúvida!
Tão perplexos quantos vocês, ficaram os dois. E como diz o ditado "Penso, logo... não durmo!" Se eles tivessem se beijado, teriam pensado nisso pelo resto do dia. Mas não se beijar fez com que eles pensassem nisso tudo por muito mais tempo. Até o dia em que eles se reencontrassem, o não saber como teria sido faria com que eles ficassem imaginando o como, o quando, o o que teria sido... E assim se vão dias de pensamento, muito mais do que o pensamento advindo somente da empolgação inicial pós-acontecimento.

Então, timidez ou estratégia (do latim estrategica, do inglês strategy, do grego...), fato é que não beijar dá mais vontade de beijar do que beijar de fato. Complexo, não? Mas assim são os seres humanos. Ou pelo menos os seres de Humanas....